sexta-feira, 31 de outubro de 2008

Contas e Geografia

O mercado de telefonia celular, na maior concentração brasileira de gente, em um mesmo prefixo de DDD (talvez no mundo só percamos para a cidade do México), foi recentemente invadido pela OI.

A construção do climax foi bem trabalhada. Carlos Merigo mandou bem no seu post sobre a 'não-mesmice' – e até participei da discussão aqui.

Agora que paulistanos de várias matizes se acotovelaram para participar da promoção, encerrada este mês, vem a público o principal executivo do grupo informar que foram gastos R$1,0 bi para 1,0 milhão de adesões. Ou seja, a compra de mercado custou R$1.000,00 por chip. Em Geografia do Brasil, quantos meses serão necessários para o pay-back se o retorno médio de um chip fosse – eu estou conjugando o verbo no imperfeito do subjuntivo – R$20 por mês? Estamos falando em 50 meses, certo?

E na matemática financeira – é aí mesmo na sua HP49738X portátil – que conta você faz?

quarta-feira, 29 de outubro de 2008

Questão de bom senso - José Carlos Stabel

Diante da maldade feita pelo Fábio, que me sapecou um desmerecido qualificativo de “sábio”, sinto necessidade de dizer que sim, ele está coberto de razão quando lembra que o óbvio nem sempre é ululante e que as pessoas muitas vezes perdem o rumo na hora de planejar o marketing (e, em decorrência, a comunicação de marketing).

Lembro, a propósito, dois casos, um vivido há bastante tempo, mas ainda totalmente vivo, o da Cannha 51, uma boa idéia, e outro, que estou vivendo há 9 anos, e que é um sucesso inquestionável, o da Central Surf, uma rede de surfwear que provavelmente quem lê os escritos do Fábio nem sabe que existe.

Num caso e noutro, haveria o risco de chamar às ações de comunicação a responsabilidade total pelo êxito alcançado.E seria mentira. Seria injusto.

Não há como negar o brilho da campanha da 51 e o peso que ela representa para a imbatível liderança de mercado desse produto por anos e anos.

Acompanhei, no entanto, esse caso, de A a Z. E posso dizer que por mais brilhante que fosse a boa idéia, ela não teria alcançado o sucesso que alcançou, se o plano de marketing tivesse se limitado à campanha. Foi magistral o trabalho da família Müller (dona da 51), em levar a sério, e executar com rigor cada uma das ações do chamado marketing mix: política inovadora e irrepreensível de distribuição, cuidados extremos na montagem da estrutura de vendas, envolvimento brilhante de cada um dos públicos intermediários, pesados investimentos em estrutura de produção, e por ai a fora. Não vou me estender. A história da 51, mesmo que não se fale da propaganda, dá chão para se falar horas e horas.

No outro caso, o da cadeia de 12 lojas da Central Surf, egoistamente (e tolamente), eu poderia atribuir o sucesso ao programa “Super Cliente” um programa de fidelidade (eta nomezinho besta!) que a minha SMD (Stabel, Marketing, Database) montou e gerencia desde 1989.

A verdade, no entanto, é que existe na Central Surf, um outro Fábio, o Fábio Gliosci, que deve tomar injeção de marketing na veia todas as manhãs.

O sucesso dessa rede (no início, em 89, eram 4 lojas, tinha um “cadastro” de 12 mil clientes, hoje são 12 lojas, caminhando para bem mais, com um banco de dados com 450 mil nomes, dos quais mais ou menos 40 mil são clientes ativos), o sucesso dessa rede, eu dizia, é produto de um conjunto de medidas que vão de um rigoroso e constante treinamento de vendedores, à escolha das músicas e filmes em exibição nas lojas, ações conjuntas para trazer novos clientes e depois atraí-los para o programa de Super Cliente, envolvimento de fornecedores, promoções inteligentes, uma série, enfim, de medidas.

Definitivamente, o programa de fidelidade, sozinho, seria coisa nenhuma. Nem sequer seria percebido pelos clientes que vivem nas lojas, cada vez que aparecem por lá, uma gostosa experiência.

As empresas , nesses dois casos, não são como as que o Fabio Adiron menciona no seu “Espicaçando o Marketing”. A 51 e a Central Surf pensam no marketing de ponta a ponta, conhecem os 4Ps (ou até outros Ps), não são do time do “samba de uma nota só”, conhecem os seus mercados, conhecem os seus canais e, sabem, sim, que para converter consumidores finais em divulgadores de suas marcas, é preciso muito mais do que fazer campanhas brilhantes ou inovadores programas de fidelidade.

Para terminar, uma frase antiga: nada como uma boa campanha para acabar com um mau produto.E uma outra frase, essa do Fábio da Central Surf, repetida cada vez que vou dar algum depoimento ou mencionar seu caso em alguma palestra e lhe pergunto se há algum problema de revelar as estratégias usadas e os resultados alcançados: “Tudo bem! Não há duas realidades idênticas.

Duvido que a nossa experiência, ainda que contada tim-tim por tim-tim, possa ser copiada por um concorrente.

”José Carlos Stabel, sábio coisa nanhuma! Apenas um cara que tenta usar, sempre, o bom senso.

*José Carlos Stabel é diretor da Stabel Marketing Database e um dos profissionais de marketing direto mais conceituados do Brasil.

segunda-feira, 27 de outubro de 2008

Perambulando em 221B Baker Street

How often have I said to you that when you have eliminated the impossible, whatever remains, however improbable, must be the truth?
Sir Arthur Conan Doyle (1859-1930), Sherlock Holmes –“The sign of four”


O sábio José Carlos Stabel costuma dizer que planejamento é a simples aplicação do bom senso e que as pessoas insistem em complicar a guerra. Ainda que muitas vezes as situações de mercado sejam complexas (produto novo, concorrência indireta difícil de mapear, estrutura de distribuição ou de preços instável), na grande maioria das vezes concordo totalmente com ele.

Isso não significa que as pessoas consigam fazer bons planejamentos. Como eu já escrevi há algum tempo, o óbvio, ao contrário do que prescrevia Nelson Rodrigues, nem sempre é ululante. E onde é que, normalmente, as pessoas costumam falhar ?

As pessoas não conhecem seu produto ou o seu negócio : experimente pedir a um executivo qualquer que defina o seu negócio em apenas uma frase. Poucos vão conseguir, alguns citarão o slogan da sua empresa. E quase todos acabarão caindo no clichê : “eu não vendo produtos....eu vendo soluções”. Se alguém não consegue entender de forma clara o que faz, o planejamento não sairá da estaca zero.

As empresas não conhecem os seus mercados : e aqui, novamente, reinam os lugares-comuns, sejam das empresas que acham que o mundo todo é seu mercado, sejam daquelas que assumem que todas as pessoas de uma determinada faixa etária, gênero e renda, tem hábitos de consumo iguais.

Os profissionais de marketing não conhecem os seus canais e, invariavelmente, continuam tentando converter consumidores finais, quando o gargalo está na sua rede de distribuidores e revendedores.

Os profissionais de marketing deixaram de pensar em marketing (lembram dos 4 P´s do Kotler ?) e acreditam que todos os problemas do mundo se resolvem com uma boa comunicação. Poucos sabem fazer um planejamento de marketing, mas todos têm idéias criativas.

Para completar, temos os profissionais “samba de uma nota só”, aqueles que um dia acertaram na mosca e, a partir daí, todos os planos seguem as mesmas regras, a mesma lógica e a mesma cara de comunicação. Reparem como determinadas soluções estratégicas se tornaram marca registrada de alguns marketeiros.

A lógica sherlockiana de eliminação de hipóteses é trabalhosa, pois nos obriga a avaliar todas as alternativas possíveis. Mas ela nos permite evitar os erros mais comuns e escapar da tentação de olhar só para o lado que parece mais fácil. A culpa, continua não sendo do mordomo (só conheço uma história dele que envolvia o mordomo que, por sinal, acaba morto).

Depois de avaliar tudo e descobrir que uma hipótese, improvável mas não impossível, é a mais correta, a guerra fica fácil. O defeito é que sempre vai ter um engraçadinho para dizer : mas era tão simples assim ?

sexta-feira, 24 de outubro de 2008

Frases Feitas, Frases de Efeito


Logo que esta crise se intensificou, lembrei-me da frase do Nizan Guanaes, lá da época dos atentados de 11 de setembro. Era 2001. Ele sacou essa, que aos olhos de muitos pareceu um tanto quanto oportunista:

“Se tem muita gente chorando vamos vender lenço.”

Mais recentemente, no Maximídia, e amplamente divulgado no meio marketeiro, trocaram farpas entre si, Nizan Guanaes e Fábio Fernandes. Diferentemente de sete anos atrás, Guanaes estava com uma postura totalmente conservadora, e Fernandes defendia que o momento era para inovar.

O café, na verdade é requentado. Não havia espaço para discutir conceitos. Que me perdoem os dois - estava mais para briga de comadres. Até porque o evento em si não permite inovação ou ruptura. Pelo menos no marketing baseado nos veículos de massa. É fazer o que sempre foi feito, seguindo fórmulas e paradigmas consagrados, debaixo da disciplina da Propaganda.

A Propaganda é um filho legítimo da era Industrial. Época em que levava tempo para abastecer os lares com televisores, máquinas de lavar louça, e o último modelo de carro lançado antes do ano fiscal terminar. Época das sopas instântaneas, dos pratos congelados, do homem de Marlboro.

Para quem ainda não percebeu, quero alertar que vivemos numa era Pós Industrial. E é impossível lidar nesta nova situação, utilizando os paradigmas de ontem, que engessam o modelo do marketing e da comunicação.

Tomemos o caso muito comum este ano de rádios alugadas pelos anunciantes. A Sul América (seguradora), a Mitsubishi (veículos), e a Oi (Telefonia) tem hoje suas FMs. Só para citar esses mais recentes. Isso é novidade? Prêmio Caboré e Top de Marketing para os pastores que já fazem isso com o Rádio há décadas, e mais recentemente (mas ainda no século passado) fazem com a TV.

Aí eu pergunto: Estamos andando para frente ou para trás? Infelizmente não temos muitas novidades no mercado. Há um fenômeno aqui ou acolá. E só. Fenômenos pontuais e não estruturais (aqueles típicos de grandes mudanças).

O CQC e a trupe de Marcelo Tas é algo novo? O deboche e o humor dos caras é sensacional, e há no desenho do programa grandes sacadas. Muito talento, muita inteligência. E fila de anunciante. Mas calma lá! Isso não é algo novo novo, pois obedece de maneira até bem comportada, os paradigmas de sempre – baseados na era Industrial.

Ao que tudo indica - e os nossos sociólogos estão corretos neste ponto - apesar de termos adentrado o novo ciclo histórico, continuamos a utilizar as ferramentas, conceitos e parâmetros do passado.

Falta-nos criatividade e fantasia. Parece que mantemos o jeitão industrial de repetirmos processos e atividades, como que engrenagens de uma máquina. Clonamos modelos, e o repetimos à exaustão. Daí vem mais uma frase de efeito, agora de Blaise Pascal:

"As pessoas capazes de inventar são raras, as que nada inventam são a maioria."

Parece-me que a chave que nos abrirá para a era da Informação e do conhecimento – do cérebro, das artes, do ócio criativo - é a inventividade. E daí sairmos de vez do jeito industrial para o da inteligência.

Creio que hoje o máximo do marketing seria pensar em novas categorias, utilizar a democracia e a descentralização advinda da internet e dos meios digitais de terceira geração, utilizar o poder do boca a boca do buxixo virtual, utilizar de mais transparência e menos ganância, e daí fazer algo novo, diferente, ainda não pensado.

Somente rompendo com o passado (e até mesmo com o presente), quebrando a inércia, eliminando o pessimismo e matando a imobilidade é que entraremos no futuro. E nenhuma crise vai segurar o ponteiro do tempo.

É tempo de inovar, tempo de sobressair.

Warren Buffet - hoje, novamente guindado ao pódio de homem mais rico do mundo, nos brinda com mais uma frase, com o que encerro meu arrazoado:

"Em tempos em que todos estão ousados, tenha medo; em tempos em que todos estão com medo, seja ousado."

domingo, 19 de outubro de 2008

Nos passos de Sherlock Holmes

Desde a minha adolescência eu sou um fã de carteirinha de Sherlock Holmes, aquele detetive que nunca disse “elementar meu caro Watson”. Já li a coleção completa algumas vezes e, nos últimos tempos, tenho assistido a série produzida nos anos 90 pela Granada Television que é extremamente fiel ao texto original , com isso, comecei a relembrar algumas tiradas típicas de Holmes. De repente, e não mais que de repente, comecei a perceber o quanto essas afirmações se aplicavam ao nosso planejamento em Marketing Direto:

1) Devemos sempre procurar a alternativa mais provável e tentar destruí-la. É a primeira regra da investigação

Aos nos depararmos com um novo projeto nós sempre somos tentados a utilizar velhas fórmulas que já deram certo em alguma outra empresa ou com algum outro produto. Afinal, isso é bem mais cômodo e a preguiça faz parte da natureza humana. Os resultados até podem ser razoáveis, mas nunca ultrapassarão o limite da mediocridade.Quem quer planejar à sério deve começar destruindo a lógica do copy/paste.

2) Eu nunca advinho. É um erro capital teorizar antes de ter dados. Sem dados, nós começamos a torcer os fatos para se adaptarem à teoria, quando é a teoria que deve se adaptar aos dados.

As pessoas querem resolver os problemas do seu negócio a partir de dados genéricos , ou pior, muitas vezes, sem dado nenhum. Esperam que a solução caia do céu como o maná no deserto.
O grande problema é que analisar dados implica em ter os dados de maneira organizada para isso, e ainda são poucos que se dispõe a esse investimento. Preferem o serviço porco e barato. Mesmo porque reduzir custos gera bônus e, de qualquer forma, daqui a um ano essas pessoas já estarão em outro emprego e não precisarão mais prestar contas do que fizeram.

3) Use seu tempo parcimoniosamente. Determine o que você tem. Depois defina o que você precisa. Aí procure no lugar onde encontrá-lo.

O mundo está cada vez mais pensando no curto prazo, ninguém quer dedicar mais que algumas horas para definir as suas ações. Mas para planejar é preciso pensar, e pensar gasta tempo. É verdade que isso vai gerar economias no médio e longo prazo...mas quem está preocupado com o futuro ?

4) Nada é tão importante quanto os detalhes. Nunca confie em generalizações, concentre-se nas miudezas.

Toda unanimidade é burra, já diria Nélson Rodrigues. As generalizações nada mais são do que unanimidades estabelecidas pelos usos e costumes. É muito mais fácil defender um planejamento baseado em generalizações em que todos acreditam do que aquele se apega a pequenos detalhes que podem realmente fazer a diferença. Históricamente, os grandes vitoriosos do marketing foram aqueles que apostaram nos detalhes.

5) Singularidade quase sempre é uma pista

Todo mundo corre atrás de sua Unique Selling Proposition. Poucos sabem definí-la, mesmo porque desconhecem sua empresa, seu produto e, principalmente os seus mercados. Num mundo de comoditização, existem cada vez menos características singulares e exclusivas nos produtos e serviços. Por outro lado, quem consegue encontrá-las e usá-las de forma adequada no seu planejamento, está passos à frente da concorrência.

6)É um erro confundir estranheza com mistério. O crime mais comum é, geralmente, o mais misterioso, justamente porque não apresenta nenhuma característica especial que possa levar à dedução.

Não existe nada mais difícil do que planejar a partir do trivial e do lugar comum. Os grandes planejadores são justamente aqueles que conseguem achar o incomum e a solução para os produtos menos badalados. Mas são justamente esses que podem se tornar os mais surpreendentes. Os produtores de palha de aço que o digam.

7) Depois de eliminar o impossível, aquilo que sobra, mesmo parecendo improvável, deve ser a verdade.

Ainda que muitas vezes as situações de mercado sejam complexas (produto novo, concorrência indireta difícil de mapear, estrutura de distribuição ou de preços instável), na grande maioria das vezes apenas precisamos de um pouco de bom senso para enxergar o óbvio.

Experimente a lógica sherlockiana. Você vai se surpreender ao descobrir que nem sempre o mordomo é o culpado.

segunda-feira, 13 de outubro de 2008

Falácias estatísticas


Dedicado ao Rogério Carpi meu mentor estatístico


Começamos com a seguinte igualdade, que é verdadeira:

16-36 = 25-45

Somamos (81/4) nos dois lados, o que não altera a igualdade:

16-36+(81/4) = 25-45+(81/4)

Isso pode ser escrito da seguinte forma: (trinômio quadrado perfeito)

(4-(9/2))2 = (5-(9/2))2

Tirando a raiz quadrada em ambos os lados temos:

4-(9/2) = 5-(9/2)

Somando (9/2) nos dois lados da igualdade temos:

4 = 5

Como 4=2+2 chegamos a seguinte conclusão:

2+2=5

A ascensão dos economistas como senhores das verdades e dos destinos do nosso país, dentre outros problemas (por formação faço parte desta “ classe “ me sinto à vontade para falar dela ), instituiu a estatística popular. Aquela que os jornais diários, os comentaristas radiofônicos e os apresentadores de televisão vivem repetindo, sem ter a menor idéia do que estão falando. É a estatística que transforma números absolutos em médias (“ontem eu vendi uma média de 30 produtos “) , que revelam progressões percentuais de situações não mensuráveis ( “ minha contusão melhorou uns 50 % “) e que transformam relações de causa e efeito em correlações (“ a ascensão do Obama está correlacionada à política externa de Bush“ ).

Termos estatísticos se tornaram os tapadores de buraco da pobreza de vocabulário. E caíram na boca do povo. Vox populi vox dei , alguém poderia argumentar - coitado de Deus que sempre leva a culpa.

Para entender as confusões é necessário saber o que significam as palavras do jargão estatístico. Vamos a elas :

1. Média : é , sem dúvida , o termo mais mal utilizado e, por isso mesmo, o alvo de inúmeras piadas ( quem não conhece a do frango ?) . Considerando uma distribuiçao de frequência de valores numéricos, ou seja , precisamos ter , pelo menos, duas ocorrências destes valores, podemos calcular uma média aritmética ( soma destes valores dividida pelo número de ocorrências) ou uma média geométrica (raiz enésima, onde “n” é o número de ocorrências, da multiplicação dos valores). Caso tenhamos um fator de ponderação, pesos relativos à importância ou repetição das ocorrências, uma dependente da outra, podemos calcular a média ponderada. Chamando a distribuição de valores “x” e a tabela de pesos “y” , a média ponderada é calculada somando-se o resultado das multiplicações de cada valor “x” pelo valor “y” correspondente e dividindo o valor obtido pela somatória de valores “y”.

Complicado ? Pode parecer mas, com certeza, fazemos isto com facilidade sem pararmos para pensar. O que realmente é complicado é que também não paramos para pensar na hora de utilizarmos a palavra média e aí, não poucas vezes, falamos besteiras. Falamos de média de uma única ocorrência (?!?) , de médias não relacionadas a valores numéricos (?!?) , de médias sem sobrenome ( aritmética, geométrica ou ponderada ?).

Ou seja : “ na média, usamos erroneamente a média”.

2. Progressões : quando falamos de uma progressão, devemos pensar em dois pré-requisitos , a saber, primeiro uma progressão se refere a um evento anterior do mesmo tipo , segundo os eventos comparados precisam ser mensuráveis (estamos falando de novo de valores numéricos). Quando alguém comenta que sua gripe melhorou 60 %, a primeira coisa que me vem à cabeça é se a pessoa mediu isto em relação aos graus de febre ou ao número de espirros... Ou quando alguém fala que “fulano é uns 30% melhor que beltrano” não consigo sequer supor o que isto quer dizer.

3. Correlação : o prefixo “ co “ indica algo que é feito ou ocorre em conjunto. Daí temos que uma correlação indica uma co-dependência entre duas distribuições de frequência, ou seja uma dependência mútua entre duas ou mais séries de valores numéricos. Usando a linguagem matemática poderíamos dizer que y = f (x) , ao mesmo tempo em que x = f (y) . A confusão típica é usar a palavra correlação para indicar uma relação de causa e efeito, onde apenas uma das variáveis é dependente.

Aqui também temos frequentemente a utilização do termo estatístico para ilustrar situações sem valores numéricos , “ correlacionando “ fatos não mensuráveis quantitativamente. Prática fomentada todos os dias pela nossa imprensa.

Poderíamos ainda citar diversas outras confusões semântico-estatísticas, mas a questão mais significativa é que devemos tomar cuidado com o uso destas palavras mais quando as ouvimos do que quando as falamos. Falácia , é algo que parece verdade, soa como verdade e é dito como se fosse verdade - mas é mentira . Manipular palavras de forma a convencer alguém sob argumentos falsos. Algumas pessoas são mestres na manipulação de palavras. Outras se especializam na manipulação de números !

Um ditado inglês diz que “ liars can figure, and figures can lie “, quando nos deparamos com afirmações onde se manipula bem as palavras e o números corremos o grande risco de tomarmos decisões erradas , dependendo da situação e da ordem de grandeza destes números, decisões catastróficas. Se tivermos o bom hábito de conhecer o básico do jargão estatístico evitamos as falácias e podemos nos ater a questionar a validade dos números.

domingo, 5 de outubro de 2008

Você executou uma operação ilegal


Contrariando um pouco (ou bastante) a cultura vigente em nosso país, eu sou um daqueles sujeitos que cresceu acreditando que as leis existem para ser cumpridas, posso até não concordar com muitas delas o que é uma outra história, mas acho ridícula essa história de lei que pega ou lei que não pega. O que faz uma lei pegar ou não é apenas a capacidade de fiscalização daqueles que a criaram. Por isso mesmo sempre me incomodou o nada infreqüente alerta dos programas Windows dizendo que eu executei uma operação ilegal (ou que o programa que eu estava usando executou uma operação ilegal), a frase não tem nenhum sentido jurídico e muito menos lógico, afinal como é que um software pode executar uma operação ilegal se ele foi concebido para fazer só aquilo para que foi programado (ou será que a mente maquiavélica dos meninos de Seattle fica criando ilegalidades nos seus códigos ?).

Mas o que mais me surpreende não são as operações ilegais do meu computador, mas aquelas realmente ilegais que continuam a se repetir depois de muitas denúncias, de investigações, e de tentativas, ao que tudo indica frustradas, de educar o mercado de marketing direto, ou seja, continua-se a comprar, vender, alugar e permutar listas ilegais. Há menos de 15 dias ouvi uma oferta de uma empresa para atualizar os dados cadastrais de um cliente meu. O sistema que eles ofereciam era o de cruzar a lista do cliente com as listas da que eles dispunham – Imposto de Renda, Telefônica, Correios, entre outras – note que eles deram destaque para essas três. Falavam sem o menor pejo ou preocupação em explicitar como eles dispunham dos dados dessas listas que todos nós sabemos não estarem disponíveis para comercialização.

O primeiro problema prático do uso desse tipo de mecanismo ilegal afeta diretamente quem as usa. São listas sem nenhum tipo de qualificação, com dados supostamente acurados (ou você acredita que as pessoas dizem a verdade para a Receita Federal ?) e sempre com desempenhos de respostas muito ruins. As pessoas desavisadas acabam comprando porque são muito mais baratas que as listas sérias do mercado e depois saem por aí dizendo que marketing direto não funciona ou que só dá 2% de retorno.

O segundo problema é que a comercialização de listas ilegais desestimula o mercado de listas honestas. De um lado porque as empresas que comercializam os seus bancos de dados ( que custou muito dinheiro para ser formado e tratado) não tem retorno sobre os seus investimentos. Com isso, acabam não tendo interesse em investir mais na atualização e enriquecimento e o mercado continua não tendo listas de qualidade. De outro lado, faz com que empresas que não comercializam os seus nomes (e que poderiam gerar novas receitas com isso) deixem de ter qualquer interesse em fazê-lo.

O maior problema é a eterna ameaça de proibição de comercialização de listas de modo geral. Não podemos esquecer que, principalmente em anos eleitorais ou de novas legislaturas, o furor legiferante dos nossos políticos fica extremamente exacerbado. Sempre vamos ter algum oportunista querendo resolver o problema da listas ilegais, tornando qualquer lista ilegal ( mais ou menos no espírito da lei seca, se não conseguimos controlar os alcoólatras vamos proibir a bebida para toda e qualquer pessoa).

Talvez a alternativa seja entrar num acordo com o Bill Gates e incluir um bug em todos os seus softwares que identificasse o uso dessas listas e mandasse a tradicional mensagem para o seu usuário : “Você executou uma operação ilegal, o seu disco vai ser formatado automaticamente”.

Clique na imagem no topo do post e divirta-se um pouco

sexta-feira, 3 de outubro de 2008

Domenico de Masi


Outro dia, no meio de uma conversa a respeito de disciplina, um bom amigo de Curitiba, o Paulo Brabo, me recomendou Domenico de Masi.


E não é que em plena terça-feira à noite desta semana, o homem me cai no colo! Claro que não fisicamente – ainda bem, pois ele ainda está bem gordinho. É o próprio Signore ‘Ócio Criativo’. Foi via internet, diretamente de BH (Inovatec o nome do evento).


No áudio, a tradutora simultânea não se continha e ria antes de repassar suas falas. Acho que o Domenico havia exagerado no vinho. O Fábio pode recomendar algo mais leve com bacalhau ...

Entre os pitacos anotados:

- A família Bush (pai e filho) tem vocação arqueológica. De tempos em tempos fazem incursão na Mesopotâmia

- Na era Industrial, a sociedade valoriza o homem (produção na fábrica) e sobre o trabalho da mulher (em casa criando os filhos). As Assembléias de acionistas de bancos parecem festa gay ...

- O excesso de horas no escritório pelos homens revelam algo. Não que amem o trabalho – mas detestam a casa. Quando termina muito cedo, inventam uma reunião de negócios. As mulheres freqüentam outros ambientes.

- Os executivos colocam os retratos de seus filhos em suas mesas. Ficam olhando para ver se parecem realmente consigo mesmos.

- Hoje a demanda é trabalho criativo. Os países ricos passaram de produtores de bens físicos e produtos, a produtores de idéias. E para produzir idéias, têm que ser criativo.

- As áreas de bem estar, saúde, diversão e entretenimento, demandam criatividade.

- Mistério! Um paradoxo que não se resolve: Como fazer a empresa ser mais produtiva. Só que mantém os paradigmas antigos de fechar o executivo no seu cubículo. Acham que com isso ele vai ser mais produtivo. Mantém-se o paradigma de controle, hierarquias, de localidade física, regras rígidas, vestimentas, engessamento. E ainda se espera criatividade e novas idéias.

- Hoje não é só o trabalho criativo de um – há o trabalho criativo de equipes. Reparem ao final do filme, nos créditos quantos participaram na obra criativa. Não foi só o diretor o criativo no processo.

- O que é criatividade? É Fantasia e Concretude – vide o livro Criatividade e Grupos Criativos (volume dois).

- O que faz Niemeyer viver para mais de 100 anos? Se mantém vivo com seus 50 projetos, sobre os quais fala com muito entusiasmo.
- Niemeyer estava me falando ontem que comprou um piano, desses grandes, de cauda. E quer aprender a tocar. Ele gosta de música, mas quer saber tocar bem ...

- Precisamos de algumas condições – Ambiente anti-burocrático, clima motivacional, entusiasmo e moderação – e lideres carismáticos!
- Não seja conservador. Os gregos diziam que a coisas com a mudança se repousam – o novo vai repousar na mudança. Repousem na mudança. Deixe os conservadores viverem em suas tristezas.