segunda-feira, 27 de outubro de 2014

Fora da caixa

Volta e meia sou questionado a respeito de saber pensar fora da caixa ou, se alguma pessoa que eu tenha indicado sabe executar esse processo que muitos crêem como extremamente complexo.
O termo já esteve mais em moda do que atualmente, o que não significa que já tenha saído completamente da linguagem corporativa, tão bem retratada nas tiras cômicas do Dilbert.
Num primeiro momento eu acreditei que a expectativa de quem pedia esse tipo de habilidade era o de receber idéias inovadoras que pudessem mudar a forma de gerir o seu negócio.
Num segundo momento eu comecei a perceber que as mesmas pessoas que demandavam inovação eram, geralmente, as que menos tinham a intenção de inovar e quem realmente queria inovar não ficava esperando as idéias espetaculares caíssem do céu, inovavam de forma continuada a começar das pequenas coisas.
Pode soar maquiavélico, mas somente as pequenas mudanças podem servir de patamar para as grandes. Como mudar o mundo se eu não consigo mexer num processo banal de comunicação interna da empresa? Como revolucionar o mercado se estou apegado aquela característica inútil de um produto que só se mantém para agradar as lembranças do fundador da empresa?
Me lembro de duas histórias sobre o tema que se incorporam ao meu folclore pessoal.
Eu fazia o planejamento de comunicação de uma empresa (em tese uma daquelas em a inovação deveria fazer parte do seu DNA) e, a pedido do gestor de marketing sempre levava três sugestões para uma mesma ação.
Uma sugestão era e mais conservadora, totalmente dentro da caixa e que seguia as regras tradicionais do mercado em que estávamos inseridos. Uma segunda idéia que não era inédita, mas que escapava do lugar-comum do negócio (nunca tinha sido usada por aquela empresa, mas tinha algum histórico de sucesso em outros lugares).
A terceira idéia era sempre incomum, inovadora, ousada. Claro que também era a mais arriscada e, por isso mesmo, sempre a apresentava propondo que fosse realizado um teste antes.
Depois de mais de um ano sem que nenhuma das idéias inéditas tivessem sido usadas, passei a só levar as duas primeiras (poderia até dispensar o segundo tipo que também nunca fora usado) e não demorou muito o gestor da empresa me perguntou por que eu não trazia mais as idéias inovadoras.
Fui bastante sincero. Achava inútil gastar tempo e sinapses com idéias que nunca eram usadas. Ele concordou, mas lamentou, afinal ele achava aquelas idéias muito divertidas.
Em outro cliente, num ramo de atividade de concorrência fortíssima e onde todo o mercado praticava o “mais-do-mesmo” de forma intensa, um dia arrisquei a propor uma ação que, até onde eu soubesse, nunca tinha sido feita por ninguém em nenhum lugar.
Considerando que o cliente era totalmente orientado a custos, eu tomei o cuidado de fazer todo um planejamento de viabilidade econômica da idéia antes de apresentá-la. Claro que não era uma opção de risco zero, por outro lado, uma taxa de resposta bem modesta e abaixo das taxas comuns naquele negócio, já pagaria a ação e, se a novidade fosse bem recebida pelos clientes, poderia gerar um lucro muito acima dos padrões da época.
Ele ouviu tudo com atenção e interesse. Ponderou sobre os números. Concluiu que meus cálculos estavam corretos, e aprovou a ação inédita com uma condição:
“Me traga um exemplo de alguém que já tenha feito isso vamos em frente”.
Pano rápido.
Um dia eu conto a história do cliente que me disse que a minha proposta era inteligente demais para a empresa dele.

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