Cena 1: uma grande empresa de serviços me chama para conversar a respeito das dificuldades que está tendo para identificar seus potenciais clientes. Tem um produto bom e que, quando ofertado, tem grande aceitação. Mas não conseguem chegar nas pessoas certas para fazer a oferta.
Depois de estudar esse mercado, volto para a empresa com uma idéia diferente e um parceiro disposto e capaz de fazê-la acontecer. Apresento para o bambambam e ela fica encantado com a idéia, nos encaminha diretamente para o sub-bambambam, que também acha que é um caminho inovador que tem grandes chances de funcionar. Da sala dele já agendamos um reunião com a sub-sub-bambambam que é quem cuida da parte operacional de vendas do produto.
Dias depois, fazemos a apresentação para a pessoa que, de fato vai colocar e idéia em operação. Ela assiste a apresentação, sem muito entusiasmo. Quando acabamos ela nos conta como é que a operação funciona (sim, já sabíamos) e nos diz que aquilo que nós sugerimos não é o que eles fazem (óbvio, senão para que estaríamos ali?). Ela não diz isso, mas como tínhamos sido encaminhados pelo bambambam e pelo sub-bambambam, ela sugere que podemos participar da operação de vendas.
Dois dias depois, nos manda uma minuta de contrato de prestação de serviços. Para fazer exatamente o que eles já estavam fazendo e que não estava funcionando. Como somos educados, agradecemos, mas não entramos nessas fria.
Cena 2: outra grande empresa, dessa vez do setor financeiro. Nessa eu não tenho um acesso tão alto na hierarquia, mas sou convocado por um bambam para conversar sobre suas ações de relacionamento. Ele me explica detalhadamente como suas ações funcionam, mostra resultados que, se não são maravilhosos, são bastante satisfatórios e, no final do papo me diz que eles chegaram à conclusão de que atingiram o limite da eficiência. Querem de mim a solução para melhorar a eficiência do que já está no limite.
De novo vou ao mercado. Descubro que o desempenho deles é superior ao dos seus concorrentes. Penso em alguma coisa diferente e, na reunião seguinte apresento as minhas idéias. Em relação ao que eles já faziam, me preocupei em demonstrar que o custo adicional para melhorar o desempenho não geraria um ganho marginal que compensasse o esforço (e, nesse momento, notava-se que eles não estavam esperando por uma explicação tão técnica), que deveriam manter as ações atuais e, se quisessem aumentar resultados, precisariam de novos caminhos.
Nunca me deram retorno. Dois meses depois li que tinham fechado um acordo com um fornecedor de mailing com o objetivo de melhorar o desempenho das suas ações. Preferiram o custo adicional.
Poderia contar mais algumas cenas na mesma linha. Um monte de gente que diz que quer se diferenciar pela inovação, desde que a inovação não seja diferente do que eles estão acostumados a fazer.
Conclui que, talvez, eu não tenha entendido até hoje o que significa o verbo inovar. Vou propor ao Aurélio (o do dicionário, não o Lopes) que mude sua definição, que deve ser: inovar é fazer maiores esforços para continuar fazendo o mesmo.
3 comentários:
Cena lamentavelmente muito comum dentro das empresas - por falta de líderes internos capazes de superar obstáculos e de vender idéias novas com o mínimo de inteligência e capacidade...
Eu sugiro uma outra definição para Inovar: fazer a mesma coisa mas com um nome diferente, se possível bonito e em inglês. O que falta na maioria das empresas é coragem (balls) para fazer o que deve ser feito. Todo mundo quer um relatório bonito e, pra isso, não se pode correr riscos.
Fábio e amigos
Tenho citado muito em minhas palestras a segunda lei de Pareto.
Wilfredo Pareto, além da lei dos 80/20 também formulou uma outra lei dividindo o mundo em "speculateurs" e "rentiers".
Os speculeteurs são os insatisfeitos com o que há, são os que sugerem e implementam mudanças, se dão bem ou se dão mal.
Mas são eles (ouso dizer, somos nós) que mudam o mundo.
Os rentiers estão na turma importantíssima que fica no auditório,à espera do que devam seguir.
Nada existe de mais duro do que mudar um comportamento assumido durante toda a vida.
Há também a história do sapo de Einstein colocado na bacia com água fria. A água ao ser aquecida pouco a pouco não provoca qualquer reação do sapo. Ele parece que aprecia o calorzinho.
Mas quando a água chega a 65°C o sapo não tem tempo para fazer mais nada. Ele morre.
Entenda este comentário como um apoio enfático a você na resolução de futuros problemas com sapos e rentiers.
abraços
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