quinta-feira, 20 de dezembro de 2012

Uma questão de escolha


Laura caminhava apressadamente entre as gôndolas do supermercado tentando acabar o quanto antes com o que ela definia como sendo o “sofrimento do mês”. Gastava um bom tempo, e não pouco dinheiro, tentando abastecer da forma mais completa a sua casa, sem precisar ficar voltando todas as semanas para repor estoque.

Nem sempre a compra do mês tinha sido um sofrimento para ela, mas, a cada dia, tudo parecia pior. Parada na frente das pastas de dente ela tentava escolher entre os mais de 20 tipos de dentifrício (da mesma marca!) quando notou que a mulher a seu lado digitava algo no seu tablet e, algum segundo depois, pegava um produto e colocava no carrinho.

Reparou que diante das escovas de dente a mulher repetiu a cena. De novo na compra de shampoo. Mais uma vez com os sabonetes. Não resistiu e, aproximando-se da estranha, lhe perguntou exatamente o que era que ela estava fazendo.

“- Minhas compras”.– ela respondeu sorrindo.

“- Sim, eu notei isso...” continuou Laura, “mas o que é que você digita nesse tablet?”.

“- As minhas escolhas. Se não eu ficaria a tarde toda aqui dentro...”.

Laura não se conteve e pediu para ela explicar melhor, aquilo parecia algum tipo de magia que ela precisava aprender.

A moça foi paciente e explicou que tinha um arquivo dos produtos que comprava todos os meses e, com o tempo, foi pesquisando informações sobre cada um deles de forma a saber qual era o mais adequado para as suas necessidades. Quando ia ao supermercado bastava digitar o tipo de produto e no seu aplicativo já aparecia qual ela deveria comprar.

Laura quis saber quais eram as suas fontes (e se elas eram confiáveis). A moça respondeu que buscava informações dos próprios sites dos fabricantes e depois confrontava essas informações nas suas redes sociais. Não poucas vezes descobrira que o discurso dos fabricantes era enganoso, por outro lado, muitos já começavam a adequar suas informações aquilo que os consumidores realmente precisavam saber para decidir suas compras.

“– E como você faz com os preços?”.

“– Isso acaba tendo uma importância secundária. Afinal, quando o produto entrega exatamente o que eu preciso não vai ser um desconto de 10 centavos que vai me fazer mudar de marca”.

Naquele mesmo dia, ao chegar em casa, Laura começou a fazer sua lista de supermercado diante do computador. Não sem antes se cadastrar em grupos e fóruns de consumidores.

O prazer da escolha fora redescoberto.

Moral da história, como já diria Esopo, as empresas que não mudarem rapidamente suas posturas para esse admirável mundo novo da informação total, da relevância e da transparência, em breve serão apenas posts engraçadinhos sobre a pré-história do marketing nas redes sociais.

Publicado originalmente na Revista Call Center