terça-feira, 14 de setembro de 2010

As palavras traem


A imagem que acompanha esse texto pode ser apenas uma montagem de algum engraçadinho (até porque não me lembro de ter visto links patrocinados no site da Folha), o que não significa que a situação não seja bastante corriqueira, ainda que nem sempre tão sanguinolenta.

Desde que o Google e todos os seus subprodutos passaram a usar palavras-chaves dos textos publicados como fator de seleção de seus anúncios e links patrocinados muitos outros portais adotaram a mesma estratégia. Afinal de contas, com a queda de receita em anúncios tradicionais é preciso ganhar dinheiro de alguma forma.

Não só os sites comerciais faturam em cima de links patrocinados, muitos blogueiros também aceitam que suas páginas exibam anúncios relacionados com os seus textos. O problema é que nenhum dos softwares que faz a escolha dos anúncios é capaz de entender o sentido do texto, trabalha apenas com palavras e não poucas vezes com pedaços de palavras.

Nesse exato momento abri um e-mail que falava sobre sociedades videocráticas (um artigo que trata sobre a onipresença das telas sobre a conformação do espaço público, não só em termos de construção do imaginário, mas também na vida econômica e política das sociedades contemporâneas) e os anúncios na barra lateral são sobre descontos em ingressos de cinemas e vendas de livros também de cinema. Uma ligação tênue e, pior, enquanto o autor questiona a excessiva dependência das pessoas em relação às telas, o link patrocinado incentiva o consumo de um tipo de tela.

Um amigo que tem um blog onde frequentemente trata de assuntos religiosos numa perspectiva reformada (e totalmente avesso aos santos católicos) mais de uma vez teve publicada a propaganda de venda de terços e rosários.

Não condeno o Google nem os portais por tentarem vender seu peixe, afinal de contas é disso que eles vivem. Questiono os amigos blogueiros amadores que tentam gerar receitas com suas páginas, uma vez que não tem controle nenhum sobre a publicidade colocada ao lado do que criam. Mas alguma coisa precisaria ser feita para evitar situações ridículas.

Ao menos os grandes portais deveriam ter um ser humano que acompanhasse o que é colocado nas suas páginas (o Blogger não teria a menor condição de acompanhar os milhões de posts publicados diariamente) enquanto os softwares estatísticos não tivessem a capacidade de entender o que os textos querem dizer.

Além de evitar gafes, certamente os anúncios poderiam ser bem mais eficientes se fossem realmente relevantes para quem está lendo os textos e, com isso, gerar mais dinheiro para todos os envolvidos no processo.

Em tempo: esse blog não aceita anúncios