O dono da concessionária de automóveis estava com um problema. Em breve receberia os lançamentos da nova linha dos veículos que revendia e ainda tinha muitos carros da temporada passada em estoque. Se não os vendesse logo ficaria com um grande mico nas mãos. Chamou a Unicórnio Comunicação para resolver.
Desesperado, o diretor de marketing da telecom vislumbrava a evaporação do seu bônus ao receber os relatórios de cancelamento do último trimestre. A empresa vendia como água, e perdia clientes da mesma forma, nunca crescia. Só a Unicórnio poderia salvá-lo.
O gerente de ativação de cartões de crédito da financeira acabara de ser ameaçado pelo seu chefe. Ou melhorava imediatamente os índices dos cartões que eles distribuiam de graça para os clientes ou poderia procurar outro emprego. Seu colega da retenção recomendou que ele falasse com a Unicórnio.
Na agência, os jobs pululavam um atrás do outro. A cada dia contratavam novos funcionários que eram treinados na metodologia que o dono da agência tinha criado: o marketing do chifre do unicórnio.
Admirador de histórias medievais e de contos de alquimistas, o homem do ano de marketing percebeu que o uso do chifre do unicórnio tinha sido abandonado pelos farmacêuticos desde o final do século XVIII e que poderia ser retomado nas campanhas de comunicação das empresas.
Afinal de contas, o que todos os empresários e executivos buscavam era uma solução mágica para os seus problemas. O esperto comunicólogo identificou no pó de chifre de unicórnio a solução para todo e qualquer problema mercadológico.
Falta de clientes? Chifre de unicórnio. Excesso de estoque? Pó de chifre. Churn alto? Dá-lhe solução mitológica.
Por menos que sua estratégia baseada no talismã funcionasse, a agência enriquecia, afinal, sempre surgiam novos e desesperados prospects. Chegou mesmo a abrir uma segunda agência para atender contas digitais, a Pedra Filosofal Online. Não demorou muito surgiu a Paracelso Direct e a Promo Brida. O grupo Unicórnio se tornou uma agência 360.
Assim como os clientes da Unicórnio, o mercado continua acreditando que uma única ferramenta de marketing é o antídoto para qualquer tipo de veneno, funciona como revigorante, soluciona a perda de memória e muitas outras moléstias.
Claro, atentos a esse mercado que busca soluções únicas, muitas Unicórnios são abertas, fechadas e reabertas com outros nomes e com a mesma metodologia travestida em novas apresentações no keynotes da vida.
Como Cícero, eu sempre me pergunto, quosque tandem? quosque tandem?
Em tempos bicudos, de transformações e mudanças, há que espicaçar. Quem pode espicaçar? Todos e cada um que tem um mínimo de discernimento do presente e sabem que à semelhança do que aconteceu com o Titanic, não tem sentido continuar tocando na orquestra (Volney Faustini, parceiro inicial desse blog)
segunda-feira, 24 de maio de 2010
O chifre do unicórnio
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segunda-feira, 17 de maio de 2010
Ouvidos moucos
Fazer ouvidos de mercador é uma expressão que caiu em desuso na nossa língua, tornou-se algo antiquado, quase um anacronismo. No entanto a prática permanece.
Caso meus leitores mais jovens não saibam fazer ouvido de mercador é se fazer de surdo, não dar importância ao que se fala. Ouvir só o que lhe interessa.
No caso dos mercadores da antiguidade, essa estratégia era uma forma de evitar barganhas excessivas por parte do comprador e, também, uma forma de não se irritar com críticas dos compradores aos produtos vendidos (o desdém é uma forma negociação também até hoje).
O problema é que os mercadores atuais continuam fingindo que não ouvem o que seus clientes querem falar. Afinal de contas, quem são esses caras que acham que sabem o que querem?
Experimente entrar numa loja dizendo que, apesar de ser a moda do momento, você odeia gola olímpica. O vendedor vai rodear, rodear e, quando você menos espera, vai te oferecer a gola olímpica.
Diga para o seu gerente de banco que não quer nem ouvir falar em título de capitalização e, mesmo assim, todo mês um aspone da gerência vai te ligar com uma proposta incrível de...títulos de capitalização (afinal, o que interessa é ele cumprir a meta, não atender o cliente).
É verdade que os poucos que se dão ao trabalho de ouvir o que o cliente quer, fazem negócios melhores e sempre estão acima das suas metas.
O que acaba acontecendo é que, na falta de diálogo com seus fornecedores, os clientes conversam cada vez mais entre si, hoje não faltam meios para isso, e decidem o que, quando e onde comprar.
Principalmente, onde não comprar.
Não que as empresas estejam dispostas a ouvir essa conversação que é pública, pelo contrário, toda vez que eu ouço algum marketeiro dizer que quer usar redes sociais no seu negócio é só para poder falar, nunca para ouvir.
O tempo dos mercadores, quando a procura era maior que a oferta, já se foi. Não escutar os mercados é tão mais fatal para uma empresa quanto mais competitivo ele for.
Sobreviverão as que descobrirem que além de esquecer o significado dessa expressão, também precisam aposentar definitivamente essa prática.
Caso meus leitores mais jovens não saibam fazer ouvido de mercador é se fazer de surdo, não dar importância ao que se fala. Ouvir só o que lhe interessa.
No caso dos mercadores da antiguidade, essa estratégia era uma forma de evitar barganhas excessivas por parte do comprador e, também, uma forma de não se irritar com críticas dos compradores aos produtos vendidos (o desdém é uma forma negociação também até hoje).
O problema é que os mercadores atuais continuam fingindo que não ouvem o que seus clientes querem falar. Afinal de contas, quem são esses caras que acham que sabem o que querem?
Experimente entrar numa loja dizendo que, apesar de ser a moda do momento, você odeia gola olímpica. O vendedor vai rodear, rodear e, quando você menos espera, vai te oferecer a gola olímpica.
Diga para o seu gerente de banco que não quer nem ouvir falar em título de capitalização e, mesmo assim, todo mês um aspone da gerência vai te ligar com uma proposta incrível de...títulos de capitalização (afinal, o que interessa é ele cumprir a meta, não atender o cliente).
É verdade que os poucos que se dão ao trabalho de ouvir o que o cliente quer, fazem negócios melhores e sempre estão acima das suas metas.
O que acaba acontecendo é que, na falta de diálogo com seus fornecedores, os clientes conversam cada vez mais entre si, hoje não faltam meios para isso, e decidem o que, quando e onde comprar.
Principalmente, onde não comprar.
Não que as empresas estejam dispostas a ouvir essa conversação que é pública, pelo contrário, toda vez que eu ouço algum marketeiro dizer que quer usar redes sociais no seu negócio é só para poder falar, nunca para ouvir.
O tempo dos mercadores, quando a procura era maior que a oferta, já se foi. Não escutar os mercados é tão mais fatal para uma empresa quanto mais competitivo ele for.
Sobreviverão as que descobrirem que além de esquecer o significado dessa expressão, também precisam aposentar definitivamente essa prática.
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