Uma das características importantes do processo de
fabricação de biscoitos é o seu duplo cozimento (daí o nome biscotti) com o
objetivo de reduzir significativamente a umidade da massa para obter um produto
final “sequinho” e crocante.
Essa qualidade dos biscoitos, por outro lado, os tornam mais
suscetíveis a quebra e esfarelamento. Um bom biscoito pode ser muito saboroso,
mas é sempre bastante frágil.
Na Internet, os biscoitos são usados desde 1994 quando,
originalmente foram chamados de “magic cookies”, são um grupo de dados trocados
entre o navegador e o servidor de páginas, colocado num arquivo de texto criado
no computador do utilizador. A sua função principal é a de manter a persistência
de sessões de navegação e identificar um usuário quando ele volta ao mesmo site
ou página web.
Em tempos de big data, o sonho dourado dos gestores de
informação e dos profissionais de marketing é conseguir relacionar os dados que
tenham dos seus clientes e prospects em seus sistemas de database com o
comportamento de navegação e, com isso, comunicar-se com eles de forma mais
incisiva, relevante e imediata. Claro, mais lucrativa.
A ponte entre os dados (cadastrais e transacionais) e as
informações de comportamento na web se faz através de um PII (personally identifiable information), uma informação que
seja exclusiva daquela pessoa.
No mundo analógico o PII pode ser a sua impressão digital, sua
identidade ou, quem sabe, sua seqüência de DNA.
No mundo digital, pode ser seu endereço de e-mail, seu login
ou até sua assinatura do Twitter ou do Facebook.
O problema é que nem todas as pessoas estão dispostas a
fornecer esses dados para navegar, aliás, a maioria das pessoas não fornece
esses dados sem a garantia de que terão algo como contrapartida. O mundo não é
mais feito de bobos.
As empresas, por outro lado, querem a informação, mas estão
pouco dispostas a investir nelas, preferindo gravar cookies nas máquinas dos
usuários e usá-los como PII. Uma identificação simples, prática e barata. Bem
ao gosto do paladar corporativo.
O problema é que, assim como seus primos comestíveis, esses
biscoitos são extremamente frágeis e, por quebrarem-se com facilidade, obrigam
os sistemas que fazem a ponte dos dados a reconstruir continuamente essas
pontes (assim como certas obras públicas)
A primeira fragilidade reside no fato de que um cookie
identifica uma máquina e não uma pessoa e, se mais de uma pessoa usa a mesmo
equipamento, a empresa pode ter uma visão do cliente bem distorcida. (quando
entro sem me logar no Youtube, recebo muitas sugestões que quem deveria ver é a
minha filha...).
Se o cookie for associado ao IP da máquina pior ainda,
todos os nossos provedores de internet trabalham com IPs dinâmicos, o que
significa que você pode receber as promoções dirigidas para o seu vizinho que
assina o mesmo provedor. Espero que sua mulher não esteja a seu lado quando
ligar seu computador.
A segunda fragilidade é a da sobrevivência dos cookies.
Muita gente ainda acredita que cookie é sinônimo de vírus, algo “do mal” e, por
isso, configuram suas máquinas para que rejeite cookies ou que apague todos
eles cada vez que a máquina é desligada.
Mesmo que o usuário não seja um paranóico fugitivo do
biscoito selvagem, isso não significa que ao fazer uma limpeza de arquivos
temporários, de tempos em tempos, ele não mande para o lixo todos os cookies
que depositou na despensa digital dele.
Claro que é preciso fazer contas, o que custa mais caro, ter
um PII permanente dos usuários ou reprocessar várias o mesmo sujeito que
eliminou os cookies? No curto prazo certamente a primeira opção demanda mais
esforço e investimento mas, eu imagino, deva valer a pena no longo prazo.
Ah...no longo prazo você já estará trabalhando em outra
empresa. Entendi.
PS: boa lembrança do Cavallini - talvez pior que o IP dinâmico é o IP genérico (uma empresa com 300 computadores pode ter um só ip de saída)
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