Depois de quase implorar para ser atendido apareceu uma
vendedora. Preço, prazo de pagamento e 75 dias para a entrega! Isso mesmo que
você acabou de ler, dois meses e meio para fabricar uma mísera cômoda com
quatro gavetas que nem puxadores tinham.
Motivo da demora: a fábrica fornecedora vai entrar em férias
coletivas durante a copa do mundo de futebol e só retoma a fabricação depois de
13 de julho (se o Brasil não for campeão, é claro...)
Desisti na hora. Prefiro bater perna na Teodoro Sampaio* e
descobrir uma cômoda que seja mais cômoda para o prazo que eu preciso, mas
fiquei pensando a respeito.
Minha primeira conclusão foi de que o dono da fábrica deve
estar nadando em dinheiro e se pode dar ao luxo de parar sua linha de montagem
por um mês. Ou que utiliza trabalho escravo e não vai precisar pagar um mês de
salário com retorno zero.
Se 1 a cada 3 pessoas que quiserem comprar seus móveis forem
como eu e desistirem da aquisição, quando voltar das férias futebolísticas, ele
vai ficar com capacidade ociosa pois vai ter 1/3 a menos de encomendas.
Pode ter certeza que quando isso acontecer ele vai dizer que
a economia está uma droga, culpar o governo pela baixa confiança dos
consumidores e fazer campanha por desoneração fiscal para manter os empregos
que gera.
Essa é apenas uma das muitas situações que estão ocorrendo
às vésperas do evento que diz que vai movimentar milhões de reais na economia.
Outros tantos negócios estarão fechados não só nos dias de jogo do Brasil.
Outros tantos trabalhadores estarão dando show de ineficiência acompanhando os
resultados nos seus smartphones ao invés de atender os clientes.
E todos eles vão culpar alguém por não atingirem seus
objetivos comerciais.
Que venha logo a copa, e que o mês passe rapidamente, senão
os indicadores de falências e concordatas vão bater recordes nesse ano.
*Teodoro Sampaio é uma rua no bairro de Pinheiros, em São Paulo, que tem uma infinidade de lojas de móveis.
Aviso aos navegantes virtuais: eu estarei trabalhando todos os dias, inclusive quando o Brasil jogar, alguém precisa defender o leite das crianças.