segunda-feira, 23 de março de 2015

O fator analógico do marketing digital

Não é fácil falar em marketing digital num mundo que está repleto de informações a respeito desse assunto. Sempre existe o risco de ser redundante, superficial ou irrelevante.
Convidado a falar a esse respeito, por 6 minutos, num evento da M11 Education, me lancei ao duplo desafio do tempo e do conteúdo.
Existem várias formas de se começar uma apresentação sobre marketing digital.
A primeira, e mais tradicional, é mostrar uma avalanche de números e soterrar a audiência com gráficos.
Mas não. Quem está no mundo empresarial e de marketing já viu isso infinitas vezes e não precisa de números para acreditar que o assunto é importante. Quem não viu, pode encontrar facilmente essas estatísticas…no mundo digital.
Outra possibilidade é a de mostrar as tecnologias disponíveis para navegar mercadologicamente no oceano virtual.
Mas não. O risco é matar o leitor de tédio com um monte de siglas e nomes que lembram as hiperconsonantais línguas eslavas.
Eu também poderia mostrar infográficos sobre a complexidade do negócio. O da Luma é um dos mais vistos em todo mundo. O do metrô de Londres, um dos mais originais.
Mas não. É impossível decompor esse emaranhado em 6 minutos e, falando a verdade, outros negócios são tão ou mais complexos que esse (basta parar para pensar um pouco na cadeia de negócios de um supermercado ou de uma montadora para reconhecer isso).
Por isso resolvi me focar na parte mais importante e menos levada em consideração do marketing digital: as pessoas.
É o lado mais analógico do mundo digital que realmente importa para o sucesso do marketing de qualquer empresa.
Conhecer e entender esse ativo inexplorado que temos é o único diferencial competitivo que as empresas podem ter.
Muito antes do marketing digital, Jack Welsh já avisava que só existiam duas fontes de vantagem competitiva nesse mundo comoditizado: a capacidade de entender os clientes e a capacidade de agir, com esse conhecimento, antes da concorrência.
Colocar a sua empresa no mundo virtual – e não existe a alternativa de não colocá-la – é sair do universo do monólogo e do discurso um-para-muitos e entrar de cabeça no universo do diálogo. O muitos-para-muitos.
Os mercados não são mais setores sócio demográficos ou segmentos com rótulos engraçadinhos. Não acredite em que diga que existem 3, 7 ou 25 tipos de clientes.
Não fique refém de generalizações de gerações. Conheça cada uma delas, mas o seu sucesso vai depender do conhecimento pessoal de cada cliente ou prospect. E eles não vem com um carimbo na testa dizendo qual é a sua classificação mercadológica.
Os mercados, já preconizava o Cluetrain, são conversações. Diálogo entre indivíduos e a sua marca. Entre nessa conversa, descubra os que as pessoas pensam sobre sua empresa e sobre os seus produtos. E não se surpreenda ao descobrir que elas sabem muito mais a seu respeito do que você imagina.
Quem supõe fazer no marketing digital o velho marketing top down dos meios de comunicação de massa está enganando a si mesmo.
Você vai precisar aprender mais antropologia, sociologia e psicologia do que escrever códigos ou criar algoritmos (para isso existem excelentes profissionais no mercado).
Vai precisar ler Tonnies e suas conclusões sobre o funcionamento de comunidades. Vai precisar ler Baumann e sua modernidade líquida. Vai precisar ler Burt para entender a rede de “vizinhos”.
E vai precisar continuamente fazer a leitura dos seus mercados.
Encoste a barriga no balcão virtual. Não se entende as pessoas somente lendo relatórios de monitoramento. Abandone as desculpas de falta de tempo, das mensagens bregas das redes sociais. Experimente passar um tempo operando o chat da sua central de atendimento online, isso vai te dar mais insights que qualquer estatística.
Não tente manobrar ou enganar o seu público. Conte histórias. Se forem fictícias, deixe isso claro. Não tente esconder sua marca quando seu objetivo é encantar as pessoas. Os mercados não são idiotas e vão se vingar se você não for honesto.
Aprenda a ouvir (ou ler). Eu sei, não fomos educados para isso. Mas é o que importa no mundo das conversações.

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