domingo, 14 de dezembro de 2008

Eu, robô?


“A sociedade do excesso tem um excesso de empresas similares, que empregam pessoas similares, de formação similar, com idéias similares, que produzem coisas similares, por preços similares e de qualidade similar.”
Funky Business


O ano é 2035, robôs circulam livremente pelas ruas, são trabalhadores braçais que fazem todas aquelas coisa chatas que os humanos não gostam de fazer : limpar ruas, lavar roupa, trazer os chinelos. Para quem tem mais de 40 anos, eles são a “Rose” dos Jetsons (lembrou ?)

Se não lembrou, certamente sabe do que eu estou falando, apesar do clássico de Asimov ser de 1950, ele reapareceu recentemente num filme com Will Smith no papel do detetive Spooner. Como boa história americana os robôs do filme eram programados para seguir determinadas regras (mas, claro, sempre com a discussão filosófica sobre a possibilidade de o ser humano criar uma máquina que possa desenvolver inteligência suficiente para tornar-se completamente autônoma).

As regras, como defendem alguns, estão aí para serem transgredidas e, de preferência recriadas, inclusive pelos robôs de Asimov ou os replicantes de Ridley Scott. Quando essa transgressão é criativa é sempre bem vinda.

No entanto, a sensação que eu tenho e que, a cada dia, fica mais forte, é a de que nós humanos estamos andando no caminho contrário. Temos procurado cada vez mais fórmulas prontas, receitas de bolo para executar as tarefas que nos atribuem, inclusive aquelas que, em tese, deveriam ter alta dose de criatividade.

No meu dia-a-dia de trabalho me confronto com profissionais que não querem se diferenciar, querem apenas reproduzir fórmulas e, pior, nem sempre são as fórmulas de sucesso. Cada vez menos encontramos pessoas com consciência crítica, com conceitos estruturados de julgamento da qualidade dos serviços que compram (e, muitas vezes compram porque está na receita do bolo, mas nem sabem para o que serve). Pessoas que preferem um gráfico bonito no powerpoint ou num dashboard, mas não sabem responder o que aqueles números significam e, pior, como é que eles podem melhorar seus negócios.

O que vemos é reflexo, de um lado, do nosso modelo educativo que não está interessado em inovação nenhuma , mas reduz a educação ao treinamento técnico científico, que atenda as expectativas do mercado; e de outro, um modelo de gestão de negócios (e, consequentemente de pessoas) baseada em pequenos ganhos de capital de curto prazo, inclusive no que diz respeito à remuneração dos profissionais, que vivem dos humores da bolsa de valores (de Nova York, é claro) e não das receitas e margens de vendas de seus produtos e serviços. Deu no que deu.

A ficção de Asimov não deixa de ser profética. Em 2035 estaremos cercados de robôs bem programados para seguir as leis da robótica. O que ele não previu é que os robôs serão de carne e osso e não de material sintético.

Nenhum comentário: