quinta-feira, 5 de novembro de 2009

Ardil


O mundo universitário viveu uma semana muito intensa em função do episódio da aluna da UNIBAN - campus de São Bernardo, vítima de um mega bullying.

A moça de nome Geyse é universitária de primeiro ano. Numa quinta-feira ela foi assistir às aulas vestida de 'sábado à noite', isto é trajando um vestido muito curto e muito produzida.

A reação de seus colegas, ao se depararem com alguém 'fora do padrão' e de jeito muito insinuante, foi de hostilidade e gozação. Os acontecimentos estão fartamente descritos em sites, blogs e comunidades, com as repercussões adentrando o feriado - quando as emissoras conseguiram o consentimento para que a moça mostrasse seu rosto (e o vestidinho também). O melhor resumo encontrei com a Rosana Hermann do Meu Querido Leitor - onde além de seu mini-editorial, coloca na íntegra uma entrevista da moça por telefone, com o repórter da Rede Record.

Vamos então aos pontos preliminares que gostaria de citar:

1 - A sociedade não está preparada para absorver e minimizar os novos tipos de crises. Elas são manifestações autônomas, que ganham envergadura na medida em que se digitaliza e se formata imagens dos fatos. Na seqüência essas imagens sobem para a internet e ganham uma nova dimensão.

2 - A Escola, como qualquer outra instituição não consegue mais dominar ou controlar o outro lado do fato - suas repercussões. Estamos hoje vivendo debaixo da des-institucionalização. O risco aqui para a Escola ou para a Instituição, é duplo.

Primeiramente, de não saber o que fazer. E, evidentemente sem ter se preparado para tal, fica imóvel e paralisada. Cria assim um vazio que serve como prancha para mais repercussões.

Ou então - querer efetivamente fazer algo - como Instituição, e utilizando de parâmetros do passado (do tipo comando e controle). Nesse caso, fazer a coisa errada funciona como uma alavanca. Ou seja invariavelmente o acontecimento continua ganhando dimensão.

3- O público de maneira geral se surpreende - e em função do inusitado, esses fatos e suas múltiplas versões ganham o espaço midiático, reverberando e ampliando suas proporções - e aí os efeitos alcançam a estratosfera.

4 - Efetivamente impotente, a Instituição erraria ao querer explicar o inexplicável (até a hora, a UNIBAN tinha se mantido em silêncio - o que neste caso específico talvez seja a única alternativa). Como não há outro recurso, resta deixar nas mãos do tempo para o cenário se recompor.

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Para grande infelicidade da Uniban, a explosão dos fatos acontece em pleno último bimestre escolar. Tempo de decisão de matrículas e inscrições de vestibulares. Com uma forte campanha publicitária programada para a Televisão -há um risco seríssimo de provocar um recall cognitivo disfuncional do tipo: "opa - que boa oferta, mas prefiro distância deles."

Ou seja, apesar de apresentar uma boa oferta de venda (talvez a mais baixa mensalidade universitária do país), ao veicular seus spots publicitários, a Instituição se vê presa ao famoso ardil popular: se correr o bicho pega, se ficar parado o bicho come!

2 comentários:

Pio Borges disse...

Fabio você teve todos os cuidados para abordar o desafio deste tema, e merece parabéns pelo esforço.

Tsmbém no Almanaque do Pio toquei no tema e cada dia o considero mais importante - não pelo que está acontecendo na UNIBAN - mas como isto se encaixa em nosso mundo novo.

Se pegarmos publicações dos anos 20 do século 20 quando as moças cortaram os seus cabelos a la garçonne e passaram a usar os vestidinhos justos que associamos ao charleston fique certo que as pancadas foram muito fortes.

No caso desta moça o que chocou mais foi a reação dos ditos jovens diante da atitude de uma jovem.

Jovem como eles, do mesmo estrato social, articulada (fala com segurança sobre as suas atitudes) e tomou porrada de praticamente todos os seus colegas.

Não há registro no noticiário de um unico defensor da garota!!!

Tenho alunas universitárias no Rio de Janeiro que mesmo sem a micro saia vestem-se de forma muito mais sensual e atualizada do que por exemplo, os rapazes.

Mas, como seria de se esperar , não há aqui um olhar crítico sobre elas.

Pergunto: como será a evolução deste processo?

Mais micro saias? Menos micro saias?

Mais sensualidade a flor da pele ?

Mais restrições à forma de vestir?

Pode parecer bobagem, mas as respostas em relação a estas perguntas serão as tendências em relação a tudo...

Como ocorre a partir dos anos 20 no século 20.

Volney Faustini disse...

Oi Pio,

Li o seu texto, e vi que ainda no inicio da repercussão do caso, voce se posicionava. O link da postagem é este:
http://pioborgesalmanaque.blogspot.com/2009/10/viralizar-fama-instantanea-na-busca-do.html

É interessante que as nossas postagens, dada a velocidade das coisas, mereceriam complementos. Eu fiz um segundo complemento com foco na educação em outro blog:
http://onovoaprendiz.blogspot.com
já com as evoluções do caso - expulsão e re-admissão.

A constatação mais evidente talvez seja essa mesma: só tem culpados nessas história.

Parece que poucos estão preparados para o presente - o que dizer do futuro!!??