Quem brincava de princesa acostumou na fantasia
(Chico Buarque)
Um dos pontos interessantes ao participar de diversas redes sociais é o fato de descobrirmos como as pessoas pensam. Especialmente para alguém como eu, que sempre gostei muito do método barthesiano de analisar os discursos reais embutidos nos discursos aparentes, é uma festa.
Uma das coisas que mais me tem chamado a atenção é a retórica preconceituosa de alguns marketeiros. Não são poucas as frases explícitas e implícitas que denotam o desprezo que eles tem por aqueles que consideram como seres inferiores, seja do ponto de vista econômico-social e, especialmente do ponto de vista tecnológico.
Pessoas que passaram toda a sua vida escrevendo briefings onde apontavam as classes A e B+ como seus públicos e criaram tal identificação com as mesmas que passaram a acreditar que são o público alvo de suas próprias ações. Hoje, quando os novos briefings apontam para os inovadores tecnológicos eles também acreditam que fazem parte desse público privilegiado.
Se sentem seres acima do bem e do mal porque receberam um convite do Google Wave, ou porque a empresa lhes fornece a versão mais moderna do Blackberry. Conheço um que ficou arrasado quando foi demitido, não por ter perdido o emprego, mas porque não teria mais seu smartphone.
Eu chamo essa categoria de pessoas de "novos-ricos" digitais. Como todo novo rico, costumam ser bregas, fascistas e alienados.
Adoram mostrar suas quinquilharias eletrônicas por onde passam (mesmo correndo o risco de serem roubados no meio da rua, o que acontece com frequência), acham que os que não tem a mesma quantidade de terabytes nas suas contas correntes cibernéticas são apenas pedintes que deveriam ser varridos do espaço virtual (se dependesse deles, todas as lan-houses seriam fechadas), e não tem a menor noção do que está acontecendo no mundo. Mundo que, de fato, eles nem acreditam que exista.
Eu conheço alguns inovadores de verdade. Poucos , mas a raridade faz parte das suas essências. Ao contrário dos novos-ricos digitais, os inovadores não ficam alardeando suas descobertas, se alegram com o acesso de cada vez mais gente no mundo digital e acompanham de perto os movimentos sociológicos da rede e, principalmente, sabem circular com desenvoltura em todas as classes sociais e internéticas.
Eles são as minhas referências conceituais e práticas, uma vez que eu não me incluo entre eles, nem acho que eu seja o que eu não sou (como os novos-ricos). Pessoas cujos blogs valem o acompanhamento diário, cujas twittadas eu abro os links e a quem recorro quando não estou entendendo nada a respeito de algo que li.
E todos os dias eu agradeço ao Twitter, ao Facebook, ao Linkedin, ao Plaxo e ao Orkut por permitirem que eu possa identificar o joio e lançá-lo no fogo.
Um comentário:
Fantástica abordagem!
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