Sitcom é a abreviação para comédia situacional – um apelido carinhoso para os seriados desenvolvidos a preencher a grade de programação de tevês abertas. Normalmente são episódios gravados em estúdio, que procuram se viabilizar com orçamento relativamente baixo. Anda-se, porém no fio da navalha, uma vez que a dificuldade para se emplacar com audiência e rentabilidade é altíssima. Nas exceções encontramos Seinfeld como a melhor série de sitcom já produzida para TV.
Jerry Seinfeld e seus colegas até que se assustaram quando os big-shots da rede NBC, separaram um milhão de dollares para apostar “nesses malucos”. Seu estrondoso sucesso – de público e de retorno financeiro, dificilmente será superado. Alcançou índices magistrais de audiência e fez muita gente rica. O próprio Seinfeld ficou trilhardário – a concepção inicial, a liderança do grupo, a manutenção do conceito em si, são méritos do cara.
Os estudiosos do Show Business referem-se à fórmula miraculosa desse fenômeno, à percepção íntima que os escritores e atores tinham da realidade mutante num contexto pós-moderno. Individualismo, sarcasmo e deboche, viver no presente com desprendimento pelos outros (inclusive familiares), uma consciência volúvel e insensível – são algumas das cores que pintavam o quadro deste sitcom a cada episódio. Some-se a isso tudo o ambiente da cidade de Nova York com toda tiração de sarro peculiar - aos e dos judeus locais ... e bum! O maior sucesso televisivo de todos os tempos.
É quase certo que o episódio mais famoso seja o de número 116 – com o título “The Nazi Soup” (A Sopa do Nazista), narra a histórica verosimilhança de um restaurante especializado em sopa que é tão bom, que os clientes fazem fila na calçada – mesmo debaixo de frio, para serem atendidos. O hilário na história é que o chef – apelidado de nazista – trata seus clientes com implacável falta de humor e sensibilidade.
Basta um simples ato de indisciplina, de brincadeira, ou de reclamação, que o chefe suspende sua venda num piscar de olhos: “No soup for you”.
A comédia ganha corpo pois todos – por uma ou outra razão - ficam sem sopa, à exceção de Jerry. Como bom individualista e egoísta, ele se mantem disciplinado para não receber o fulminante veredicto. Até mesmo quando sua namorada é expulsa do restaurante, ele veste a capa da malandragem em frente ao exigente chef.
Namorada: “Vamos Jerry, para outro restaurante ...”
Jerry: “O que? Eu nem te conheço!”
Moral da história
Este é o outro lado da vida como ela é – viu, Sr. Nelson Rodrigues. Muitas vezes nos revestimos de indignação e revolta frente a determinados casos de desrespeito ao consumidor. Fazemos uma análise até correta - quadradinha, lógica, ajeitada, politicamente correta, e em prol das melhores boas intenções. Mas esquecemos de combinar com o namorado – que é pós-moderno, sem consciência, individualista e debochado.
Corremos o risco de recebermos no meio da cara um “Não te conheço!”
Em tempos bicudos, de transformações e mudanças, há que espicaçar. Quem pode espicaçar? Todos e cada um que tem um mínimo de discernimento do presente e sabem que à semelhança do que aconteceu com o Titanic, não tem sentido continuar tocando na orquestra (Volney Faustini, parceiro inicial desse blog)
quinta-feira, 5 de junho de 2008
THE SOUP NAZI
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