Lembro-me quando, há uns vinte anos, veio ao nosso escritório a Sandra Carvalho, então editora de Marketing da Revista Exame. Estávamos no olho do furacão do Telemarketing no Brasil, e muitas empresas estavam ávidas para conhecer os bastidores. Mencionei uma anedota tirada do bolso do colete. Era 1988. Dizia que ao projetarmos o ano de 2000, tínhamos uma boa e má notícia. A boa era que todos teriam um parente próximo a trabalhar nesta atividade. E a má, era que todos os dias, nós receberíamos uma ligação de alguém tentando nos vender alguma coisa.
Não imaginávamos para o Telemarketing, essa febre do gerúndio, nem o serviço de baixa qualidade, e muito menos a explosão de sistemas de navegação – que muito lembra os 3Fs do cafezinho de garrafa em fim de expediente: frio, fraco e com formiga.
Ao nos prepararmos para uma entrevista jornalística, podemos nos transformar, com muita facilidade em papagaios, repetindo frases feitas e conceitos emprestados de citações que já caducaram. Há que se buscar mais profundidade e alma – para que tanto o jornalista questionador como seus leitores tenham a inteligência respeitada.
As questões de profundidade passam obrigatoriamente por uma visão sistêmica – olhando a floresta e não umas poucas árvores. Profundidade pressupõe mais que estudo – requer reflexão, conselho e um bom tanto de experiência. Lembro também de certa vez que me pus a falar, despejando o caminhão de melancia no pobre do jovem jornalista no outro lado da linha. Nada do que disse foi publicado – e bem merecido para mim. Por isso acrescento: na hora de falar, seja comedido e relevante.
Por falar em relevância, evite os termos técnicos e aquelas expressões em Inglês – que pode parecer glamoroso para suas colegas, mas muito pedante para o leigo. Quem atua em e com Marketing tem que saber se comunicar. E fica melhor ainda ao fornecer ilustrações e exemplos. Quanto mais do repertório pessoal, mais forte e bem contextualizado para o jornalista.
Cuidado com a sede por sangue. A versão é mais importante que o fato. O cachorro mordendo o homem, é comum e sem apelo, já o homem mordendo o cachorro ...
Em tempos de e-mail, tanto entrevistador como entrevistado ganham um forte aliado para a seriedade. A troca de mensagens facilita a vida de ambos e dá transparência para o processo. Já para quem fala, dá respaldo e segurança quando o tema é espinhoso.
Uma dica final. Em se tratando de situação delicada – utilize do mesmo expediente de seu interlocutor: grave você também a entrevista!