Em tempos bicudos, de transformações e mudanças, há que espicaçar. Quem pode espicaçar? Todos e cada um que tem um mínimo de discernimento do presente e sabem que à semelhança do que aconteceu com o Titanic, não tem sentido continuar tocando na orquestra (Volney Faustini, parceiro inicial desse blog)
terça-feira, 17 de fevereiro de 2015
quinta-feira, 30 de outubro de 2014
Marketeiro sim!
Provavelmente, ao final desse texto, você irá me acusar de
corporativismo. E, de certa forma, você estará certo. Não no sentido original
do corporativismo como modelo político mas pelo fato de que eu venho aqui
defender a minha classe profissional.
Durante as eleições de 1989, os profissionais que cuidavam
da comunicação dos candidatos receberam o apelido de marqueteiros.
Marqueteiro (ou marketeiro), segundo os principais
dicionários brasileiros (“Aurélio” e “Houaiss”), é “pessoa ou profissional do marketing”.
Infelizmente é quase sempre utilizado pela imprensa para
designar especificamente aqueles profissionais que fazem “marketing político”.
Por motivos óbvios, a expressão carrega um viés
depreciativo, claramente associado ao “produto” que estão vendendo.
Nosso bom e velho Kotler já definia o Marketing como o
conjunto de atividades que envolvem o processo de criação, planejamento e
desenvolvimento de produtos ou serviços que satisfaçam as necessidades do
consumidor, e de estratégias de comunicação e vendas que superem a
concorrência.
É justamente aí que as coisas começam a ficar nebulosas,
uma vez que um político não é um sabão em pó que foi criado para atender as
necessidades do consumidor.
Ou não?
Pior, na ânsia de conquistar o poder, as estratégias de
comunicação e vendas desses “produtos”, não poucas vezes poderiam estar
sujeitas ao código de defesa do consumidor ou a recursos no Conar, reclamando
da propaganda enganosa.
Eu sou marqueteiro. Muitos dos que me leem também. Tenho
certeza que, assim como eu, muitas vezes sentiram vergonha de dizer que são
profissionais de marketing – e pensar que, em tempos áureos, essa era uma
profissão cheia de glamour!
Não defendo a volta desse glamour, que também era
excessivo. Nossa profissão não nos torna seres humanos melhores que os outros.
Nem piores.
O que defendo é o resgate da valorização profissional da
classe. Inclusive dos marqueteiros políticos – existem bons profissionais
trabalhando seriamente com “produtos” em que eles acreditam de verdade.
A quem cabe essa função de resgatar o valor da classe?
De um lado às nossas entidades representativas mas,
certamente, muito mais a cada um de nós, mostrando no dia-a-dia que nosso
trabalho é importante e, principalmente, honesto.
Marketeiro sim! E com muito orgulho
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segunda-feira, 27 de outubro de 2014
Fora da caixa
Volta
e meia sou questionado a respeito de saber pensar fora da caixa ou, se
alguma pessoa que eu tenha indicado sabe executar esse processo que
muitos crêem como extremamente complexo.
O
termo já esteve mais em moda do que atualmente, o que não significa que
já tenha saído completamente da linguagem corporativa, tão bem
retratada nas tiras cômicas do Dilbert.
Num
primeiro momento eu acreditei que a expectativa de quem pedia esse tipo
de habilidade era o de receber idéias inovadoras que pudessem mudar a
forma de gerir o seu negócio.
Num
segundo momento eu comecei a perceber que as mesmas pessoas que
demandavam inovação eram, geralmente, as que menos tinham a intenção de
inovar e quem realmente queria inovar não ficava esperando as idéias
espetaculares caíssem do céu, inovavam de forma continuada a começar das
pequenas coisas.
Pode soar maquiavélico,
mas somente as pequenas mudanças podem servir de patamar para as
grandes. Como mudar o mundo se eu não consigo mexer num processo banal
de comunicação interna da empresa? Como revolucionar o mercado se estou
apegado aquela característica inútil de um produto que só se mantém para
agradar as lembranças do fundador da empresa?
Me lembro de duas histórias sobre o tema que se incorporam ao meu folclore pessoal.
Eu
fazia o planejamento de comunicação de uma empresa (em tese uma
daquelas em a inovação deveria fazer parte do seu DNA) e, a pedido do
gestor de marketing sempre levava três sugestões para uma mesma ação.
Uma
sugestão era e mais conservadora, totalmente dentro da caixa e que
seguia as regras tradicionais do mercado em que estávamos inseridos. Uma
segunda idéia que não era inédita, mas que escapava do lugar-comum do
negócio (nunca tinha sido usada por aquela empresa, mas tinha algum
histórico de sucesso em outros lugares).
A
terceira idéia era sempre incomum, inovadora, ousada. Claro que também
era a mais arriscada e, por isso mesmo, sempre a apresentava propondo
que fosse realizado um teste antes.
Depois
de mais de um ano sem que nenhuma das idéias inéditas tivessem sido
usadas, passei a só levar as duas primeiras (poderia até dispensar o
segundo tipo que também nunca fora usado) e não demorou muito o gestor
da empresa me perguntou por que eu não trazia mais as idéias inovadoras.
Fui
bastante sincero. Achava inútil gastar tempo e sinapses com idéias que
nunca eram usadas. Ele concordou, mas lamentou, afinal ele achava
aquelas idéias muito divertidas.
Em
outro cliente, num ramo de atividade de concorrência fortíssima e onde
todo o mercado praticava o “mais-do-mesmo” de forma intensa, um dia
arrisquei a propor uma ação que, até onde eu soubesse, nunca tinha sido
feita por ninguém em nenhum lugar.
Considerando
que o cliente era totalmente orientado a custos, eu tomei o cuidado de
fazer todo um planejamento de viabilidade econômica da idéia antes de
apresentá-la. Claro que não era uma opção de risco zero, por outro lado,
uma taxa de resposta bem modesta e abaixo das taxas comuns naquele
negócio, já pagaria a ação e, se a novidade fosse bem recebida pelos
clientes, poderia gerar um lucro muito acima dos padrões da época.
Ele
ouviu tudo com atenção e interesse. Ponderou sobre os números. Concluiu
que meus cálculos estavam corretos, e aprovou a ação inédita com uma
condição:
“Me traga um exemplo de alguém que já tenha feito isso vamos em frente”.
Pano rápido.
Um dia eu conto a história do cliente que me disse que a minha proposta era inteligente demais para a empresa dele.
quinta-feira, 16 de outubro de 2014
O briefing de Nabucodonosor
Conta a narrativa bíblica que um dia o rei Nabucodonosor, da Babilônia, acordou e mandou chamar todos os seus magos e encantadores.
Ele tivera um sonho e queria que os magos dissessem para ele qual tinha sido o sonho e qual era a sua interpretação. Perplexos com o pedido, os magos disseram que isso era impossível e lhe pediram que contasse o sonho para que fosse interpretado.
Nabucodonosor, que não era bobo, se recusou a contar o sonho. Sabia que se o contasse os magos inventariam qualquer interpretação. Insistiu na sua demanda, e mais, avisou que se ninguém resolvesse o problema mandava matar todos.
Pânico geral na corte. Até que um dos serviçais se lembrou de um judeu exilado que conhecera na cadeia. Um tal de Daniel. Segundo o serviçal, Daniel conversava diretamente com o seu Deus e fazia prodígios.
Nabuco mandou buscar o sujeito na cadeia. Daniel pediu um prazo para resolver a questão e, dias depois, voltou com a resposta. Contou o sonho (tinha sido aquilo mesmo) e deu a interpretação, que Nabucodonosor não viveu para ver cumprida, mas ficou satisfeito com a resposta e promoveu Daniel a seu braço direito.
Tirando a questão de virar o braço direito, não foram poucas as vezes que me deparei com essa mesma situação na minha atividade de consultor. O cliente sabe que tem um problema, mas não sabe explicar exatamente o que é. E quer que você lhe diga qual é o problema e, claro, a solução para ele.
A experiência mostra que muitos dos problemas empresariais e de marketing, são questões recorrentes de falta de processos, desconhecimento da carteira de cliente e, pasmem, a falta de indicadores de resultados que realmente avaliem os sucessos e fracassos do negócio.
Normalmente, um bom levantamento de informações dentro da empresa e uma série de perguntas estratégicas já servem para mapear onde é que o “bicho está pegando”. Algumas vezes as soluções são simples, em alguns casos, especialmente os que envolvem mudanças de processos e, principalmente, mudanças de cultura, a solução é óbvia, mas de implantação muito complexa.
Pior do que isso, só mesmo quando o gestor que te contratou concorda com tudo aquilo que você mapeou como problemático mas, ao invés de implantar a solução, quer que você resolva seus problemas sem tocar nas feridas existentes, ou que você melhore aquilo que não é o mais relevante para o negócio.
E nem sempre temos o prazo que Nabucodonosor concedeu a Daniel.
Hoje começa uma nova semana, sei que vou continuar encontrando Nabucodonosores pelo meu caminho. Alguns vão me ouvir e agir. Outros vão me ouvir e não fazer nada, ou fazer mais do mesmo.
O que me alivia é que esses reizinhos não tem mais o poder para mandar matar todos os seus consultores.
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terça-feira, 19 de agosto de 2014
Onde começa a renovação
Ventos de renovação sempre são bem vindos. Por melhor que
esteja uma situação o mundo está mudando de forma tão rápida que não podemos esperar
sentados que as melhorias caiam do céu. No entanto, é nos momentos de
insatisfação ou de crise que esses ventos se aceleram e tomam forma.
Existem modelos diferentes para se renovar algo. Pode ser
uma reforma, onde agimos sobre os focos de problemas e mantemos aquilo que
consideramos bom. Também pode ser uma revolução, onde negamos tudo que foi
feito anteriormente e começamos do zero. Muitas vezes não passa de uma
maquiagem, ou em termos mais moderninhos, um photoshop que só transforma
artificialmente as aparências.
O que uma renovação certamente não é, é uma volta ao
passado. Por mais saudosistas que
sejamos de tempos que considerávamos bons (e, certamente os consideramos bons
pois esquecemos das suas dificuldades e defeitos) não se vai para o futuro
olhando para trás.
Mesmo Marty McFly
descobriu que se não mantivesse o passado da forma como estava, ele não existiria
no futuro. Renovação não é uma inovação em marcha ré.
Ao me deparar com o movimento que propõe renovação na ABEMD
(Associação Brasileira de Marketing Direto) - movimento que mostra aspectos saudáveis e outros nem tanto - identifico algumas questões que,
acredito, mereçam reflexão.
Nenhuma organização humana - clube, associação, igreja,
governo... – está isenta de erros e de falhas, caso contrário não seria humana.
Faz parte da nossa essência e natureza sermos seres falíveis. Dessa forma, nenhuma dessas organizações está
isenta de críticas e de oposição.
Eu sou daqueles que acredita que crítica e oposição são saudáveis
pois é no confronto de idéias que conseguimos crescer.
Como sócio e conselheiro da Abemd reconheço seus méritos e
suas falhas. Inclusive a falha de nem sempre alardear as suas vitórias, assim
como a falha de nem sempre reconhecer os seus erros.
Não concordo com aqueles insatisfeitos que acham que tudo
está errado. Também não concordo com os
satisfeitos que acham que tudo está lindo e maravilhoso.
Certamente minha maior
discordância é em relação aos indiferentes que nunca acham nada e preferem
manter seus glúteos encadeirados.
E, se queremos pensar em renovação, a primeira coisa que
precisamos mudar é a nossa atitude enquanto associados. Afinal de contas,
independentemente de qual seja o modelo de governança ou de quem é o gestor do
momento, a associação representa aquilo que nós sócios somos.
Apontar o erro dos outros é sempre mais cômodo que fazer uma autocrítica.
Se a renovação não começar pelo comprometimento e interesse
dos associados em trabalhar pela associação
não vai fazer sentido nenhuma outra mudança.
Trocar o gestor será apenas como trocar o técnico de um time
de futebol de maus jogadores. Talvez até ganhe o primeiro jogo depois da
substituição, mas não se sustenta no médio e longo prazos.
Trocar o modelo de governança será apenas uma maquiagem
corporativa, como tantas declarações de “missão, visão e valores” que
encontramos penduradas nas paredes de algumas empresas. Discurso inóquo.
Precisamos de pessoas que estejam dispostas efetivamente a
participar do conselho da associação (nas últimas eleições que tivemos o número
de candidatos quase foi igual ao número de vagas).
Precisamos de pessoas que possam dedicar algumas horas do
seu mês em reuniões de comitês, em compartilhamento de idéias em palestras e,
por que não, em momentos sociais nos cafés da manhã da associação (aliás, vejo
gente reclamando da falta de almoços, mas não parecem nos encontros matinais,
será sono?).
Precisamos de pessoas que acreditem que discordância de idéias não é perseguição pessoal e que democracia pressupõe algumas decepções.
Se essas pessoas existirem o conselho será renovado, a
governança será renovada e a gestão refletirá o oxigênio novo do mercado.
Se for para trocar seis por meia dúzia, eu fico onde estou e economizo tempo e energia.
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sexta-feira, 1 de agosto de 2014
Prêmio cara de pau 2014
Abro minha caixa de entrada e encontro uma mensagem de uma
ONG daquelas bem conhecidas me pedindo
um monte de informações.
Algumas delas absolutamente genéricas, outras bem
específicas a respeito de mercado, de estratégias de comunicação e de
arrecadação de fundos.
Não sou um leigo no assunto. Já trabalhei como voluntário
para uma e como consultor para outra e, modéstia às favas, com bons resultados
para ambas.
Respondi que a mensagem que ela me enviava não tinha
informação suficiente e que seria melhor agendarmos uma reunião para que eu
pudesse entender melhor quais eram os desafios e dores de cabeça da
organização.
Ou seja, sem um briefing decente, não é possível falar nada
que não seja uma leviandade. E eu detesto ser leviano.
Hoje recebo outra mensagem. Segundo a pessoa que me contatou
a agenda da presidente da ONG é muito complexa e que ela só iria agendar
reuniões com empresas que tivessem previamente respondido as perguntas que eles
formularam.
Agradeci a mensagem, afinal sou um cara educado, e disse que
meu modelo de trabalho não era esse. Mas
fiquei com vontade de dizer outras coisas, que servem para qualquer tipo de
potencial cliente, ONG ou não.
Primeiro: se você está fazendo uma concorrência deixe isso
claro desde o começo ao invés de deixar escapar em outro momento. Já participei
de muitas e também já declinei o convite para outras. É uma opção da minha
empresa participar ou não.
Segundo: não use o fato de estar fazendo uma concorrência
como uma ameaça do tipo “se você não responder minhas perguntas, outros vão
responder”. Começar uma relação comercial com chantagem não tem futuro nenhum.
Terceiro: se quer conhecer as empresas participantes de um
processo de concorrência, primeiro peça que lhe enviem suas credenciais. Lá
você vai descobrir que tipo de trabalho elas prestam, se já tiveram clientes do
mesmo ramo de atividade e quem são os profissionais responsáveis pelo trabalho.
Quarto: não dê uma de espertinho tentando obter serviços
gratuitos. É uma maneira porca de trabalhar e o que você vai conseguir são
respostas porcas que conduzirão o seu negócio a resultados porcos. Por mais que eu aprecie os suínos, isso não
combina com o trabalho de gente séria.
Agora, se você quer um serviço baratinho, de quem usa a
mesma receita de bolo para todos os seus clientes e não tem nada a perder se os
resultados forem pífios, pode fazer como essa ONG. Vista a cara de pau e saia
distribuindo e-mails com questionários mal formulados.
A esperança, dizem, é a última que morre.
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segunda-feira, 2 de junho de 2014
O país do futebol
No domingo tentei comprar um móvel. Nada muito complexo, uma
cômoda com algumas gavetas. A loja era daquelas de pronta entrega mas, nesse
caso, o móvel era feito sob encomenda.
Depois de quase implorar para ser atendido apareceu uma
vendedora. Preço, prazo de pagamento e 75 dias para a entrega! Isso mesmo que
você acabou de ler, dois meses e meio para fabricar uma mísera cômoda com
quatro gavetas que nem puxadores tinham.
Motivo da demora: a fábrica fornecedora vai entrar em férias
coletivas durante a copa do mundo de futebol e só retoma a fabricação depois de
13 de julho (se o Brasil não for campeão, é claro...)
Desisti na hora. Prefiro bater perna na Teodoro Sampaio* e
descobrir uma cômoda que seja mais cômoda para o prazo que eu preciso, mas
fiquei pensando a respeito.
Minha primeira conclusão foi de que o dono da fábrica deve
estar nadando em dinheiro e se pode dar ao luxo de parar sua linha de montagem
por um mês. Ou que utiliza trabalho escravo e não vai precisar pagar um mês de
salário com retorno zero.
Se 1 a cada 3 pessoas que quiserem comprar seus móveis forem
como eu e desistirem da aquisição, quando voltar das férias futebolísticas, ele
vai ficar com capacidade ociosa pois vai ter 1/3 a menos de encomendas.
Pode ter certeza que quando isso acontecer ele vai dizer que
a economia está uma droga, culpar o governo pela baixa confiança dos
consumidores e fazer campanha por desoneração fiscal para manter os empregos
que gera.
Essa é apenas uma das muitas situações que estão ocorrendo
às vésperas do evento que diz que vai movimentar milhões de reais na economia.
Outros tantos negócios estarão fechados não só nos dias de jogo do Brasil.
Outros tantos trabalhadores estarão dando show de ineficiência acompanhando os
resultados nos seus smartphones ao invés de atender os clientes.
E todos eles vão culpar alguém por não atingirem seus
objetivos comerciais.
Que venha logo a copa, e que o mês passe rapidamente, senão
os indicadores de falências e concordatas vão bater recordes nesse ano.
*Teodoro Sampaio é uma rua no bairro de Pinheiros, em São Paulo, que tem uma infinidade de lojas de móveis.
Aviso aos navegantes virtuais: eu estarei trabalhando todos os dias, inclusive quando o Brasil jogar, alguém precisa defender o leite das crianças.
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segunda-feira, 10 de fevereiro de 2014
O macróbio sou eu
Há não muito anos escrevi um artigo refutando as idéias de
um colega e, dentro do meu humor habitual, usei o termo macróbio no meu texto.
Digamos que ele não gostou e me processou de forma febril. O
juiz considerou a acusação como sendo improcedente. Eu até hoje acredito que o
que o incomodou não foi meu jeito jocoso mas o fato de eu ter refutado as suas
teses.
O que eu sei é que, à medida que avançamos na vida, todos
nós nos tornamos macróbios e, claro, não me refiro ao escritor e filósofo
romano que que comentava os sonhos de Cipião, mas ao antigo povo da Etiópia que
era notável pela longevidade dos seus indivíduos.
O tempo passou e, apesar de eu ainda não poder ser
classificado como idoso pelo IBGE nem pela Organização Mundial de Saúde, já
estou sendo tratado assim por alguns marketeiros das redes farmacêuticas.
Não sei se a análise de big data deles sugeriu que quem toma
medicamento para colesterol já deve ser classificado como idoso mas, na
semana passada fui convidado por uma fármacia a retirar um brinde que estava
disponível para mim, na categoria de "aposentado".
Ao chegar, o rapaz que me atendeu olhou para mim com uma
expressão surpresa e me perguntou se eu era aposentado. Respondi que, apesar
dos meus cabelos brancos, ainda não tinha chegado à essa fase (se bem que, se o
governo tivesse mantido as regras de aposentadoria de quando eu comecei a trabalhar
eu já teria esse direito).
Processo é processo e, mesmo não me enquadrando no perfil dos seres brindáveis, meu nome estava lá e eu tinha direito ao presente.
O mais interessante é que os ítens do brinde pouco tinham a
ver com a imagem que se faz da turma da terceira idade (um copo daqueles usados
por atletas e uma necessaire onde não caberiam todos os ítens de um ser um
pouco mais vetusto). O que me leva a crer que a marca que patrocinou o brinde
talvez não o tenha direcionado para esse público, o que deve ter sido mais uma
decisão original do marketing da rede.
Como eu não sou atleta e raramente uso um necessaire, cada
um dos ítens foi repassado a meus filhos, bem menos macróbios que eu, diga-se
de passagem.
Produto errado para a pessoa errada, utilizando um processo
errado e que, no final das contas, foi parar nas mãos das pessoas erradas.
E depois ainda tem gente que diz que nós, os macróbios,
estamos ultrapassados.
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domingo, 22 de dezembro de 2013
Caixa de ferramentas
Para o
Pérsio de Oliveira, com quem tive esse debate
Eu tenho um
péssimo histórico nas tarefas ditas "masculinas" do lar. Definitivamente nem
puxei geneticamente nem consegui aprender essas coisas com o meu pai que
consertava praticamente tudo.
Sempre fui
proibido de me aproximar da rede elétrica da casa no que fosse mais que uma troca de
lâmpadas, quando tentei ir além, tudo que consegui foi destruir alguns
interruptores de abajures.
Na parte
hidráulica e me limito a fechar o registro de água e chamar um encanador. Poucas
vezes consegui fixar um prego sem danificar o reboco da parede e as furadeiras
me parecem instrumentos que encarnam o maligno.
Numa
recente tentativa de pintura de parede fui muito "elogiado" por tê-la deixado
com a aparência de pintura texturizada.
O que não
significa que durante a minha vida algumas pessoas não tenham me presenteado com
lindos jogos de ferramentas. Alguns até bastante sofisticados mas totalmente
inúteis nas minhas mãos.
As únicas
ferramentas caseiras que eu manipulo com certa destreza são as da cozinha e as
que sempre me permitiram escrever (desde o bom e velho lápis, passando pelas
canetas e as máquinas de escrever até os teclados modernos).
Por isso é
que eu sempre olho com desconfiança quando alguém vem me pedir indicações de
ferramentas tecnológicas de marketing. Afinal, de que adianta a melhor
ferramenta nas mãos de alguém que não sabe utilizá-las?
E,
infelizmente, a minha experiência tem mostrado que quem mais busca ferramentas
milagrosas são aqueles que tem menos competência conceitual e prática para
utilizá-las, acreditando que a ferramenta vai compensar a
incompetência.
Claro que
existe um imenso mercado que vive disso e, exatamente por esse motivo, vende a
idéia de que o hardware ou o software serão capazes de fazer aquilo que os
neurônios não fizeram (quem sabe isso se torne verdade quando realmente tivermos
ferramentas com inteligência artificial).
Também já
tive a oportunidade de presenciar o contrário. Gente que era tão competente que
conseguia ser eficiente com as ferramentas mais rudimentares, não poucas vezes,
improvisadas e, aparentemente, inadequadas.
Por tudo
isso é que eu nunca indico nenhuma ferramenta para quem me pergunta a respeito,
mesmo conhecendo dezenas delas.
Se a pessoa
não souber usar, qualquer ferramenta será ruim, e a culpa da indicação da
ferramenta será minha (afinal, foi ela que falhou...)
Se souber,
qualquer ferramenta trará bons resultados e, muito honestamente, não será por
mérito do que eu indiquei.
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